terça-feira, maio 04, 2004

No «Livre Directo» publicado na Doze desta semana, Rui Santos toca numa das feridas do futebol português, que aliás já tinha sido motivo de conversa entre amigos aqui da Bancada. «Há, hoje, enviados especiais que, depois de receberem o seu nome inscrito nas camisolas da selecção e de se pegarem como pastilha elástica àqueles que pretendem entrevistar (e entrevistam), vêm mais tarde (em artigos de opinião!!!) sublinhar as proezas daqueles que procuram os fretes. Tudo isto é feito com um à-vontade extraordinário, em nome do ‘amiguismo’. Sem um pingo de ética, sem um pingo de vergonha. Hoje, consegue-se uma entrevista; amanhã, agradece-se com um artigo de opinião laudatório. Hoje, trabalha-se num organismo de utilidade pública; amanhã, opina-se sobre o ex-patrão, com patrocínio deste, com o fito de ter a notícia em antecipação. Tráfico de influências? Não! Apenas falta de formação.»

Assim, talvez, se compreenda o facto de praticamente não existir jornalismo de investigação no futebol português. Sim. Como é possível Rui Jorge acusar positivo num controlo anti-doping e ter de ser o próprio clube a tornar público esse facto praticamente dois meses depois? Como é possível a operação Apito Dourado ter sido desencadeada há mais de um ano sem que os três diários desportivos nada terem escrito sobre o assunto, ainda para mais quando se sabia perfeitamente como Gondomar andava a ganhar jogos? Como é possível esperar-se por um jornal semanário para se saber que Zahovic tinha sido apanhado com álcool no sangue e sem carta? E tantas outras questões que ficam sem resposta, enquanto as chefias colocam novos «valores» atrás de notícias - para, em muitos casos, serem queimados à posteriori - , enquanto velhos «monstros» são postos na prateleira.