segunda-feira, maio 03, 2004

E AGORA SPORTING?...

A pergunta impõe-se: e agora Sporting? Por muito «injusto» que possa ter parecido ao engenheiro, o facto é que - apesar de ter jogado melhor no «derby» de ontem, e de ter sido, em termos gerais, mais equipa que o Benfica ao longo da Superliga - o clube de Alvalade viu ontem confirmado o afastamento da Liga dos Campeões, depois do anunciado «adeus» ao título.

Ficou, assim, coroada de forma exemplar mais uma época paupérrima para os lados de Alvalade. Para sermos justos na avaliação desta temporada, temos de aceitar que em termos estatísticos houve, de facto, um progresso entre a segunda época de Bölöni e a primeira de Fernando Santos. Pior também era difícil, convenhamos... Mas, estatísticas à parte, se nos cingirmos ao que verdadeiramente interessa, já lá vão dois anos de deserto total.

Para além disso, à falta de vitórias e dos respectivos troféus, juntou-se a perda de jogadores que foram, momentaneamente ou não, símbolos do Sporting e peças fundamentais na construção do(s) último(s) título(s) e da criação de algum clima de euforia entre adeptos: Hugo Viana, Jardel, Quaresma, Cristiano Ronaldo... Pelo caminho ficaram, também, episódios quase anedóticos, como as eliminações da Taça de Portugal e da Taça UEFA às mãos de adversários aos quais os leões tinham «obrigação» de ganhar (Genclebirligi, Vit. setúbal, Naval 1.º Maio ou Partizan).

A ocasião é, agora, propícia a uma reflexão profunda, pois aparenta o Sporting ter chegado a altura de grandes decisões, na definição de uma estratégia que passará forçosamente por uma de duas opções: ou se aposta na continuidade de um projecto que se quer sem grandes sobressaltos (financeiros) ou se arranja a coragem de engendrar um balão de oxigénio que potencie a ascensão do clube a outros patamares.

Do ponto de vista do adepto, a escolha é óbvia: há que apostar no reforço da equipa, pois os clubes (como ontem recordava um amigo meu, citando o Johan Cruyff) existem para ganhar jogos e competições. Que eu saiba, os adeptos não costumam juntar-se para ir comemorar à porta da CMVM a subida ou descida das acções.

Tudo bem que há limites orçamentais a respeitar. E também ninguém nega o mérito do esforço que tem sido feito pelos gestores da SAD leonina para tornar o clube viável. Mas há alturas em que custa ao adepto continuar a aceitar determinados factos. E esta é uma dessas alturas. Porque custa (acreditem), aceitar antecipadamente a hipoteca de quaisquer candidaturas ao que quer que seja, em detrimento de uma política que dificilmente reconduzirá o clube ao trilho do sucesso.

Senão vejamos algumas das ilações que somos obrigados a fazer, ao traçar uma curta análise ao plantel do Sporting: Paulo Bento e Rui Bento acabam a carreira; jogadores como Luís Filipe, Clayton ou Toñito não podem continuar a ser «não opções» e, ao mesmo tempo, limitar-se a fazer número no plantel; a crença no regresso do «D. Sebastião» Sá Pinto está condenada ao ridículo; Silva, está mais que visto, foi uma opção fracassada; a margem de manobra de Quiroga esgotou-se...

Junte-se-lhes as incógnitas em torno do que sucederá com João Pinto – e na eventualidade de continuar, a dúvida sobre qual será o seu rendimento – e do que será a evolução de nomes como Mário Sérgio, Paíto ou Carlos Martins e temos quase meio plantel em forma de grande ponto de interrogação.

Por isso repito: e agora Sporting? Feito o exercício que expus nos parágrafos anteriores, confesso que ontem me arrepiou ouvir o Dias da Cunha dizer – após a derrota com o Benfica – que não estava totalmente infeliz porque sentia que, apesar da derrota, tinha «ganho uma equipa»...

Essa frase fez-me antever um futuro próximo quase igual ao passado recente. Pelos vistos, vamos ter de enfrentar a realidade: temos Danny para regressar, Paulo Sérgio para apostar, Raul Meireles para negociar... e pouco mais. Pelas minhas contas, não chega para quebrar a hegemonia do FCP ou para fazer face aos progressos do Benfica. Porque o plantel é desequilibrado. Porque a estrutura base da equipa que venceu os últimos troféus foi vendida/envelheceu. Porque apesar de ter um plantel de 28 jogadores, ficou mais do que comprovado que Fernando Santos só conta com 14/15 deles. Assim sendo, aguardo com particular interesse as cenas dos próximos capítulos.

(E como estamos em altura de balanços, brevemente deixarei aqui «postadas» as minhas considerações sobre o trabalho entretanto desempenhado pelo Fernando Santos)