segunda-feira, abril 19, 2004

Regressos...

... e sensivelmente um mês depois de me ter sentado pela última vez nesta bancada, eis-me de volta. Impressionante, como o Bruno Paixão conseguiu despertar em mim a necessidade de aqui voltar para despejar algumas das frustrações com que um mero adepto fica depois de assistir a coisas que custam a adjectivar.

Gostava que percebessem que não é minha intenção vir agora para aqui desfiar um rol de lamentações, daquelas que invariavelmente acabam por ter como denominador comum a treta do «clube coitadinho» que só não ganhou tudo o que havia para ganhar porque os árbitros ou o «sistema» não lho permitiram.

Não! Tenho-me por uma pessoa minimamente ponderada e acho que consigo avaliar com algum discernimento a realidade das coisas, nomeadamente jogos em que o Sporting teve a sorte de os árbitros errarem a seu favor ou o azar de ver o contrário acontecer. Mas quando as coisas se situam nesse patamar – da sorte ou do azar nas boas ou más avaliações que os árbitros fazem dos lances – um gajo tem de se limitar a aceitar as situações com maior ou menor desportivismo.

O pior é quando acontecem situações como aquela a que assisti no último fim-de-semana, no Estádio do Bessa. Até dou de barato que o árbitro possa não ter visto o penalty sobre o Liedson. Até aceito que o fiscal-de-linha, prejudicado pela rapidez do lance, tenha de facto pensado sem má fé que o Liedson partira em fora de jogo num lance em que ele arranca ainda no seu meio campo e em clara situação soberana para fazer o 2-0. Até considero natural que ele tenha expulsado o Barbosa por aquela atitude já perto do fim... pá, aceito tudo isso, tal como aceito que o lance do golo do Liedson pudesse ter sido anulado... Mas é a tal coisa... são lances em que, por muito que me custe, procuro sempre pensar que «o árbitro é humano e pode enganar-se».

Mas depois... Bom, depois existem aquelas «coisas» que não consigo assimilar, por mais que tente. E creio não ser por falta de inteligência. A expulsão do Rui Jorge será, seguramente, um daqueles enigmas que se arrastarão por tempos indeterminados nos «x-files» do futebol português. Pensava eu já ter visto de tudo – até um porco a andar de bicicleta, como dizia o outro – mas o Bruno Paixão fez questão de me provar que eu estava redondamente enganado: não, nunca tinha visto um jogador ser expulso em sete minutos, na sequência da amostragem de dois cartões amarelos injustos. Sim!, unanimemente considerados injustos, na medida em que em ambos os lances admoestados com o cartão amarelo, o Rui Jorge jogou sempre a bola antes de fazer qualquer falta... na zona intermediária, sublinhe-se...

Como se explica uma situação destas? Custa-me a encontrar a resposta... Provavelmente, se entrasse pela teoria do «sistema», acabava por enredar-me numa teia da qual não conseguiria sair com uma única ideia válida, tamanho é o pântano da suspeição, intriga e maledicência em que o nosso futebol está mergulhado. Resta-me, por isso, aceitar como válido o facto de o árbitro em causa ser medíocre e não honrar as insígnias da FIFA que – vá-se lá saber com que critérios – lhe foram entregues.

O pior é concluir, depois disso, que o futebol português está de tal forma entregue aos bichos que dentro de três ou quatro semanas já ninguém se lembrará desta vergonha e que o mesmo senhor continuará passear-se por esses relvados fora de apito na boca, incólume às asneiras que vai acumulando, com o devido compadrio de quem ocupa posições hierarquicamente superiores nestas coisas do triste futebol lusitano.

Entretanto, e como não poderia deixar de ser, assuntos que mereceriam uma maior ponderação e, inclusive, a origem de um debate mais sério sobre as coisas indescritíveis que se passam nas barbas dos adeptos, rapidamente surgem por aí alguns atentados à inteligência das pessoas, assinados – valha-nos Deus – por jornalistas desportivas de índole pouco mais do que duvidosa.

É o caso de um «post» colocado no blog «Bola na Área» por um tal de Sérgio Krithinas – personagem que escreve umas coisinhas sobre desporto no 24 Horas – que parece disposto a assumir da forma mais convicta possível o seu estatuto de pseudo-deficiente mental. Aproveita este senhor o espaço cibernético que tem para não só lançar a dúvida sobre o carácter de Fernando Santos por ter criticado Bruno Paixão, como também para sugerir que o Sporting não terá perdido o jogo do Bessa por causa do árbitro mas sim por causa das más intervenções do guarda-redes Ricardo...

Sinceramente, o que mais me irrita no meio de tudo isto é não conseguir abstrair-me do facto de este «selvagem» ganhar a vida a fazer jornalismo desportivo. Bem sei que vivemos em democracia e, consequentemente, por mais ridículas que sejam as opiniões dos outros, temos de aceitá-las como legítimas. O que não invalida que eu também tenha o direito de considerar quem produz afirmações deste tipo não está apto para exercer a função que exerce, por perceber tanto de futebol como eu percebo de agro-pecuária.